Tuesday, October 12, 2010

Dimache Promenade

Júnior Araújo
Estudante do Curso de Letras, do Campu I da Uneal
e Técnico Administrativo da mesma Instituição

Era uma tarde de domingo, muito quente. A internet já não resolvia mais o problema do tédio. A saída era então ligar para os amigos, ou... enfim, marcar alguma coisa para a noite. Peguei celular e quando vi, não tinha créditos, devia então sair e comprar em algum lugar.

Saí de casa, desolado porque já não tinha mais dinheiro. O salário ficou nas contas por aí, ou então ainda no banco para saldar outras dívidas. Mas ainda havia chance: o cartão de crédito. Foi com o que sai na carteira para comprar créditos de telefone.

A fila não estava tão grande na farmácia, mas o sistema não estava no ar. Então fui ao banco e mesmo sem dinheiro suficiente para pagar as contas saquei um pouco. Volto então à farmácia. Mas nem gastei o dinheiro sacado, parece que era só para poder segurar um pouco o resultado do suor de tanto trabalho que servirá para me dar um pouco mais de proteínas, lipídeos e seja lá o que for... se eu der sorte, consigo até umas roupas novas para vestir.

Voltando à farmácia, vejo, na porta, um pedinte. Um pedinte que pela expressão via-se que ele realmente precisava do que estava fazendo e ao mesmo tempo, pelo seu olhar grave, causava receio.

Pego nova fila, o rapaz vai para outra porta, de onde fica olhando para mim. Eu sem saber o que fazer. Fico triste pela situação de um ser humano, que poderia ser eu mesmo, daquele jeito largado, solto na rua, sem ter um destino, perdido em mais um dia de domingo quente e solitário. Inevitavelmente também temo, pois quem garante que ele não vem me roubar? Quem me garante que ele quer pedir??? São tantas as dúvidas.

Pois bem, coloquei meu crédito, paguei, com o cartão, e conseqüentemente não tinha nenhuma moeda de troco para dar, então, esperava não ser incomodado. Sai pela porta qual entrei, e o indivíduo saiu da qual estava e veio falar comigo. O que fazer? Correr? Gritar? Chamar um guarda? Bem, não sei o que seria o certo, mas o respondi, quando ele falou.

- Ei, chegado, me dá um... aí... Eu não entendi então perguntei:

- O quê?

- Me dá um real pra comprar um arroz.

Sem palavras, abri a carteira muito confuso, pensando: ajudaria uma pessoa (sabendo mesmo que só seria por um curto momento), e ao mesmo tempo receoso de ter a carteira roubada. Mas dei alguma coisa que tinha comigo. E saí.

Estava andando para casa, deixando o centro de Arapiraca, mas ainda assim olhei para trás, precaução, talvez. Mas continuei andando e vi mais dois pedintes, mas não me abordaram, eles estavam conversando qualquer coisa, foi quando lembrei que na praça Marques também havia mais gente. Ainda mais gente...

E há gente sentada, gente deitada, gente esperançosa ou gente já desistente. Só consigo pensar que tanta pessoa, jovem, adulta, senhora, merece uma vida tão melhor e estão em condições tão tristes. No final, nós ainda temos medo de nos tornar, por uma fatalidade da vida, uma vítima delas, enquanto sem nem poder pensar elas a cada dia são vitimadas pela incoerência de uma sociedade tão perversa, da qual elas são injustiçadas e muitas vezes parecem nem sequer perceber.

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